sábado, 22 de agosto de 2009

Descaminhos (Trailer)

"Eu lembro disso tudo, sinhô. I ocê num lembra, lembra?" Diz o ferroviário de, então, 86 anos. Não, nós não lembramos; mas filmes - produtos culturais - como "Descaminhos" nos ajudam a lembrar que, antes de tornar-se um aparente 'beco sem saída' (título do filme, em inglês), a ferrovia foi mais que motor do desenvolvimento, como também um modo de vida. São testemunhos que nos ajudam a reavaliar se nosso mundo de pneus e asfalto foi realmente a melhor escolha. Uma escolha e uma história que continuam aí, não importa o quanto se diga que é tarde demais.



"Um road movie sobre trilhos através de quatro estados, 55 cidades e 8.000 km de linhas férreas. Moradores às margens de ferrovias lembram o passado e comentam o presente a partir de um elemento comum: o trem."

Sinopse completa no site Meu cinema brasileiro.


(Obrigado a Janaína Figueira pelos links da resenha e do trailer =)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Linha cruzada

A expressão "correndo atrás do prejuízo" ficou famosa enquanto erro de português e aplica-se bem à pressa e a seus perigos, que já transparecem na saga da implantação do TAV; vai ser preciso muita disposição para conciliar o trem-bala com a míriade de propriedades e projetos que seu traçado cruza:

A UFRJ e o TAV

17/08/2009

Aloísio Teixeira, reitor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

A Universidade Federal do Rio de Janeiro recebeu, surpresa, a notícia da Consulta Pública promovida pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), destinada a “divulgar a documentação pertinente e colher sugestões sobre o projeto de implantação do Trem de Alta Velocidade –TAV, para o transporte de passageiros entre as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas.”

A surpresa se deve ao fato de que um projeto de tal magnitude, com custos elevados e grandes impactos sobre as áreas direta e indiretamente afetadas, do ponto de vista ambiental,econômico e social, seja colocado em discussão com um prazo tão curto (24 de julho a 17 de agosto), informações insuficientes e sem que instituições, grupos sociais, comunidades e demais agentes públicos e privados interessados tenham possibilidade de tomar adequado conhecimento da questão.

Ainda mais surpreendente é saber que o traçado pretendido atravessa a Cidade Universitária da UFRJ, território onde se exerce a autonomia universitária assegurada pela Constituição Federal. A autonomia, expressão contemporânea da tradição que, desde os primórdios da instituição, é um requisito fundamental para o desenvolvimento da educação superior, consiste em direito ao autogoverno, inclusive em questões relacionadas à ocupação, uso e acesso ao território universitário.

Tal fato ganha maior gravidade por se dar em um momento em que a Universidade está elaborando seu Plano Diretor UFRJ 2020 — na verdade um ambicioso projeto de desenvolvimento da Cidade Universitária, que enfatiza sua integração à Cidade do Rio de Janeiro e aponta para a necessidade de uma ampliação expressiva das redes de transporte público para atender a uma população estimada em mais de 120.000 pessoas que circularão por essa região até 2020. O Plano Diretor é parte de um conjunto mais amplo de projetos que integram o Plano de Reestruturação e Expansão da UFRJ, aprovado pelo Conselho Universitário em outubro de 2007 e homologado pelo Ministério da Educação.

Vale destacar que uma das recomendações ali contidas diz respeito exatamente à garantia da integridade e inalienabilidade do patrimônio fundiário da Universidade. A razão para essa recomendação é que a finalidade primordial do patrimônio da Universidade Federal do Rio de Janeiro é a de servir única e exclusivamente ao fim para o qual foi destinado, isto é, ao desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão universitária.

Há uma razão adicional que aumenta nossa preocupação: o Edital desconhece a importância e a qualidade dos conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos no país, omitindo inteiramente qualquer requisito que venha a associar o projeto ao desenvolvimento nacional.

Por essas razões, o Conselho Universitário da UFRJ aprovou em recente reunião uma moção de protesto contra os procedimentos adotados, a ausência de informação qualificada e os prazos irrisórios da Consulta Pública. Manifestou ademais sua oposição à utilização da Cidade Universitária, que não foi sequer consultada, como via de passagem para o trem de alta velocidade, através de terrenos de propriedade da UFRJ e nos quais a Universidade exerce sua plena autonomia constitucional.

A UFRJ está plenamente consciente de que a questão do transporte público integra o painel de problemas que exigem soluções eficientes e modernas. A UFRJ está capacitada a ajudar na busca das soluções. Exatamente por isso, e em defesa de sua função social e de seu estatuto, desautoriza qualquer intervenção no território da Cidade Universitária, à sua revelia, e apela à sociedade em geral e às autoridades governamentais direta ou indiretamente envolvidas com o processo decisório referente ao Projeto do TAV que ampliem os prazos de discussão pública e permitam que as decisões sejam tomadas não em gabinetes fechados mas com ampla consulta aos interesses da sociedade e da população.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Que comecem os jogos!

Sob o horizonte da Copa do Mundo de 2014; começa a disputa internacional entre detentores da tecnologia do trem-bala por um dos mais promissores e populosos trechos em todo o mundo, o Rio-São Paulo.

http://www.transportes.gov.br/TavBrasil.jpg

Como os franceses, espanhóis, japoneses e coreanos, os chineses entram de vez no páreo, o que promete jogar preços para baixo e o nível de exigência para cima:

Chineses entram na disputa pela construção do Trem-Bala

06/08/2009 - Secretaria de Transportes do Estado do RJ

Depois de reuniões com o Ministério dos Transportes, em Brasília, uma comitiva do alto escalão do Ministério das Ferrovias da China, liderada pelo diretor-geral Wu Wey, chega ao Rio para uma série de reuniões e visitas técnicas nesta quinta-feira (06/08). Eles serão recebidos pelo secretário estadual de Transportes Julio Lopes. Além do trem-bala, principal assunto da agenda dos chineses, as reuniões no Rio também incluirão os investimentos que o estado está fazendo no sistema de trens e metrô, cuja compra de novos carros foi fechada com a China recentemente.

Pela manhã, os chineses se reúnem com o secretário na sede da empresa Asian Trade Link (ATL), de Marco Polo Moreira Leite, responsável pela vinda da comitiva ao Brasil. Em seguida, a comitiva fará uma visita à Supervia, que receberá 30 trens, comprados pelos estado, que serão fabricados na china pelo consórcio chinês National Machinery Import & Export Corporation. Para conhecer o funcionamento do sistema ferroviário do Rio, os chineses farão uma viagem de trem até o Estádio João Havelange, no Engenho de Dentro, onde participam de um passeio guiado.

Na parte da tarde, a comitiva visitará o sistema metroviário, sendo recebida pelo presidente da concessionária MetrôRio, José Gustavo de Souza Costa. A concessionária também fechou com a China a compra de 19 trens, num total de 114 novos carros, para o metrô do Rio. O contrato foi assinado com o governo chinês em recente visita do governador Sergio Cabral ao país asiático. Na ocasião, os fabricantes da Changchum Railway Vehicles (CNR) se comprometeram a entregar os primeiros carros ainda em 2010.

A visita do governador Sérgio Cabral à China no mês de julho foi decisiva para a entrada dos chineses na concorrência pelo trem-bala e selou a vinda do grupo ao Brasil. O país tem larga experiência em construções e fornecimento de tecnologia para sistemas ferroviários. Recentemente, eles venceram licitações na área de ferrovias na Argentina, no Paquistão, na Indonésia e no Irã.

- Sabemos do interesse de empresas espanholas, japonesas, coreanas e francesas em participar do processo licitatório para construção do primeiro Trem de Alta Velocidade do Brasil. Mas a entrada da China, país detentor de grande experiência no setor ferroviário, vem para agregar ainda mais valor ao nosso projeto – comemora o secretário Julio Lopes, que acompanhou o governador na viagem à China.

O projeto brasileiro, que vai interligar São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro com trens em velocidades superiores a 200 km/h, está estimado em R$ 34,626 bilhões, conforme estudo encomendado pelo governo à consultoria britânica Halcrow.

Em Brasília, os chineses se reuniram com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e com o presidente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo. Em São Paulo, a agenda é com o secretário de Estado de Transportes, Mauro Arce, e provavelmente com o governador José Serra.

O diretor-presidente da Asian Trade Link (ATL), Marco Polo Moreira Leite, diz que o interesses do chineses pela construção do trem-bala abre novas possibilidades de financiamento ao projeto, devido as reserva trilhonárias da China. De acordo com o empresário, a vitória recente de estatais chinesas para fabricação dos trens e carros de metrô no Rio de Janeiro aguçou o interesse do país asiático no Brasil.

- Os chineses entram no páreo com muito dinheiro para investir, maquinário a preços baixos, tecnologia avançada e mão-de-obra capaz de entregar qualquer encomenda antes do prazo. A chegada deles é motivo para deixar os concorrentes no mínimo preocupados, diz Marco Polo.

De acordo com dados do Ministério das Ferrovias, a China, cuja malha ferroviária totaliza 80 mil quilômetros, tem como meta construir, até 2012, 13 mil quilômetros de linhas de alta velocidade, mais do que todo somatório das linhas de alta velocidade existentes no mundo hoje. Até 2015, os traçados de trem-bala na China devem totalizar 16 mil quilômetros.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Iraque de volta aos trilhos

Enquanto, no Brasil, ainda se diz que é muito difícil reconstruir o modal ferroviário, que não vale mais à pena, o Iraque - à exemplo do próprio Japão pós-guerra - aposta na ferrovia para a reconstrução da economia e das vidas dos iraquianos.



Fonte: http://noticias.uol.com.br

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Se o trem não vem ao passageiro...

... o jeito é ir até o trem; frase que vale para muitos países da américa latina, como pude constatar em uma viagem por Argentina, Chile, Peru e Bolívia - que também explica o grande hiato de posts recentemente. Os serviços turísticos acabam suplantando a carência do trem enquanto meio logístico de transporte de massa. Mas antes de realizar uma análise completa (país por país, sim!) da situação ferroviária latinoamericana, vale a pena conferir este prospecto do trem turístico no Brasil, publicado pelo Diário do Grande ABC:

Pantanal Express + Bonito

quinta-feira, 6 de agosto de 2009, 07:00

Turismo nos trilhos

Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC

Enquanto a gripe suína e os reflexos da crise econômica internacional fazem operadoras de turismo e algumas companhias aéreas amargarem uma queda drástica nas vendas de destinos internacionais, o sistema ferroviário avança sobre trilhos brasileiros a todo vapor. A Serra Verde Express, considerada a maior operadora de trens turísticos do País, que o diga. Em entrevista exclusiva ao Diário, o diretor comercial da empresa, Adonai Aires Filho, anunciou um pacote de novidades para o segundo semestre impulsionado pelo crescimento de 9% registrado nos primeiros seis meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2008.

"Mesmo com as chuvas que destruíram parte de Santa Catarina, tivemos um aumento grande de passageiros no passeio para Morretes (saindo de Curitiba, no Paraná). E o turismo ferroviário está crescendo como um todo. Dos 17 trens associados, todos tiveram um incremento entre 7% e 9%. Isso sem falar no Trem do Corcovado, que registrou um crescimento ainda maior devido à eleição do Cristo Redentor como uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo", comemora o empresário.

Uma das novidades será oficializada no dia 26, quando a Serra Verde deverá aproveitar a viagem em comemoração ao aniversário de 100 anos da rede Hostelling International para lançar a "pedra fundamental" da construção de um albergue em Morretes.

"Vamos aproveitar a ocasião para anunciar o novo empreendimento, que deverá ser inaugurado em agosto do ano que vem. Por conta da própria ferrovia, Morretes tem registrado um aumento significativo na demanda turística e ainda há pouca estrutura para acolher os visitantes", explica Aires Filho. No ano passado, o trem paranaense transportou 140 mil passageiros.

Para o Dia dos Pais, a BWT Operadora oferece pacotes para o trecho entre Curitiba e Piraquara, em vagões de luxo, ao custo de R$ 150 por pessoa. O valor inclui coquetel, música ao vivo, passagens e um jantar no restaurante Obra Prima com chegada à estação curitibana por volta das 23h40.

E os aficionados por futebol ainda poderão festejar os 100 anos do Coritiba com uma viagem especial no dia 21 de novembro. "Os jogadores foram de trem para o primeiro jogo do clube, contra o Ponta Grossa, 100 anos atrás", explica Aires Filho.

A ideia é resgatar a memória dos torcedores através de apresentações, dentro dos vagões, que contarão a história do clube década por década. "O trem parte às 7h15 de Curitiba e chega às 13h30 a Ponta Grossa, onde será oferecido um almoço para 564 pessoas. Depois, todos assistem a uma partida contra o próprio Ponta Grossa e voltam de ônibus." O pacote também será vendido a R$ 150 pela BWT.

PANTANAL - O Trem do Pantanal - que começou a operar em maio interligando os 220 quilômetros que separam as cidades de Campo Grande, Aquidauana e Miranda, no Mato Grosso do Sul - também terá sua linha estendida até Corumbá. A expectativa é de que a segunda fase do projeto seja concluída até o fim do ano que vem.

Outros acertos estão em andamento para que a Serra Verde Express assuma a reativação das antigas linhas Angra dos Reis - Lídice, no Rio, e Viana-Marechal Floriano, no Espírito Santo, ambas como produto turístico. "Queremos definir até o fim de agosto para começar a operar já em dezembro, aproveitando a alta temporada de verão."

Os custos para manter as linhas, no entanto, não são nada modestos. Além dos R$ 177 mil que a empresa paga todos os meses ao governo federal só pela concessão do trecho operado no Paraná, a ALL (América Latina Logística) ainda embolsa 30,2% do valor de cada passagem. Mas Aires Filho garante que investir no turismo sobre trilhos ainda é um bom negócio. "O investimento para implantação de uma ferrovia é muito alto, mas compensa a longo prazo."

INFORMAÇÕES - BWT Operadora - (0xx41) 3888-3488. Site: www.bwtoperadora.com.br