sexta-feira, 26 de março de 2010

Virada de Jogo

O último post falava de uma revolução ferroviária na China; os EUA não querem perder esse bonde: US$ 8 bilhões em verbas podem começar uma mudança radical na matriz de transportes do que foi o epicentro da cultura rodoviária. As infinitas highways, a Rota 66, o "I love my car" e a liberdade auto-afirmativa de conduzir o próprio automóvel - cada vez mais aprisionado em congestionamentos - cederão algum espaço as viagens de trem.

É uma decisão de viés econômico, logístico e, palavra que se utiliza há algum tempo para arrematar argumentos mil; SUSTENTÁVEL. Mas pouco se fala do processo psicológico, a operação no imaginário que tal mudança leva a cabo. Provavelmente nenhum "cowboy" vai largar seu sedento Hyllux ou Landrover, mas mesmo eles terão mais espaço - já que necessitam de tanto. Talvez não percebam; feliz mesmo vai ficar a parcela que utiliza o transporte público ou esta aberta a deixar de lado os prazeres e suplícios de ter um carro ou moto. Dependendo da profundidade da mudança, mesmo os que optam pela bicicleta poderão sair ganhando, ou melhor, pedalando de vagões especiais.

Na era JK coadunamos com a premissa de que o modal rodoviário era o mais adequado ao desenvolvimento econômico do país, numa época em que a ferrovia estava em decadência no mundo inteiro. Há algum arrependimento por deixar a ferrovia apodrecer sobre o solo e no conceito do brasileiro? Certamente. Uma coisa não excluía a outra: se os Estados Unidos podem optar por uma revitalização, certamente está relacionado ao fato de que o foco foi desviado dos trilhos, mas eles nunca foram sistematicamente desmantelados e desprezados como no Brasil. A crise do serviço dos passageiros e o advento ao avião não os cegaram para a vocação da ferrovia para a carga, de modo que o sistema segue arterial; não experimentou a nossa gangrena.

Outra vez temos uma tendência a seguir - ou não, salve Caetano. E alguém poderá insistir no não, esbravejar algo sobre a necessidade de uma "experiência autóctone", um caminho e um modelo apenas para o Brasil. Uma velha forma de fazer coisa alguma; o advento ao rodoviarismo só foi daninho pela sua esquizofrenia, a absurda recusa à multimodalidade num país, à época, coberto por mais de 30 mil km de trilhos e, ainda hoje, possuidor de um dos maiores potenciais hidrográficos do planeta.

Os Estados Unidos, a Europa, o Iraque e todos os outros países do BRIC já tem uma postura mais que definida; enquanto o teletransporte e os carros voadores não chegam, o trem é o transporte do futuro, desse amanhã que se constrói hoje. E eles não têm intenção de minar o desenvolvimento de qualquer outro meio de transporte; não se trata de um jogo de soma zero, apenas a conhecida necessidade da alocação inteligente de recursos.

Como alocaremos os nossos? O mundo está dando uma resposta clara. E não é hora para pirraça.

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Disney quer alta velocidade oriental

16/03/2010 - Bloomberg

O Walt Disney World pode ser a próxima parada para os fabricantes ferroviários da China e Japão. A Central Japan Railway Co. e a China South Locomotive & Rolling Stock Corp. competem hoje pelos US$ 8 bilhões de verbas que o presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, ofereceu a 13 corredores ferroviários norte-americanos.

Inclui-se no pacote a linha de alta velocidade entre Tampa e Orlando, ainda não construída, que poderá incluir uma estação dentro do parque da Disney. A companhia japonesa, também conhecida como JR Central, foca seus negócios nos EUA, já que no Japão o transporte de passageiros está em declínio.

Empresas como Alstom (França), Siemens (Alemanha) e Bombardier (Canadá) também estão interessadas em vender seus trens, linhas e equipamentos de operação aos Estados Unidos, no que o secretário dos transportes Ray Lahood chamou de “uma virada de jogo” no transporte de massa americano. Os corredores de alta velocidade incluem os trechos Nova York-Buffalo; Los Angeles-São Francisco e Chicago-Detroit.

“A alta velocidade será uma grande indústria nos Estados Unidos”, disse Masayuki Kubota, que prevê o equivalente a US$ 1,8 bilhão em ativos para a empresa japonesa Daiwa SB Investments Ltd., em Tóquio. “Muitas empresas vão concorrer para degustar uma fatia do bolo ferroviário americano”.

“Topo da lista”

São considerados trens de alta velocidade aqueles que viajam a mais de 250 km\h. O Japão é a sede do primeiro “Shinkansen” e a maior rede de alta velocidade do mundo, transportando 308 milhões de pessoas nos últimos 12 meses a partir de março do ano passado.

Ao comparar com o Acela Express, que viaja no máximo a 240 km\h entre Washington e Boston, este serviço transportou 3,4 milhões de pessoas em 2008. A operadora estatal Amtrak, que recebeu US$ 112 milhões do pacote do governo Obama para melhorar a infra-estrutura do Corredor Nordeste, usa os trens da Alstom francesa e Bombardier canadense, as duas maiores fabricantes de trens de passageiro do mundo.

“A Flórida está no topo de nossa lista”, disse Yoshiyuki Kasai, presidente da JR Central. “Nossos parceiros nos EUA tiveram contato próximo com as rotas de nosso interesse”. Estão inclusas na lista uma linha no Texas, e outra entre Los Angeles e Las Vegas, afirmou Kasai.

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